A história de Daniel Tammet, do livro “Nascido em um dia azul”, é relatada pelo próprio jovem, diagnosticado com Síndrome de Asperger (SA). Daniel, que é dotado de uma mente extraordinária, domina sete idiomas e efetua cálculos invulgares, vive em Kent, na Inglaterra, e tem uma empresa de tutorias linguísticas na Web.Embora nem todos aspergers tenham a mesma performance que ele, Daniel atribui a sua autonomia e integração no mundo à participação da família, que o ajudou a enfrentar e a vencer as dificuldades típicas da patologia. A SA é uma forma de autismo que torna difícil a aquisição das habilidades sociais que se desenvolvem naturalmente na maioria das pessoas.
“Os portadores da Síndrome de Asperger estão entre os autistas com alto grau de funcionamento”, explica a psicóloga Cláudia Romano, uma das diretoras do Grupo Gradual, clínica paulista que analisa e trabalha comportamentos de desenvolvimento atípico. Cláudia ressalta que no autismo há diferentes graus de deficiência que podem ir desde os muito deficitários até crianças que desenvolvem somente algumas características do diagnóstico.No caso da SA, as principais deficiências se encontram nas áreas verbal, social e comportamental. “Embora a aquisição e desenvolvimento da fala ocorram de maneira normal para essas crianças, elas têm dificuldade de usar o que aprenderam para se comunicar, ou seja, os portadores da síndrome geralmente falam bem, mas a fala não cumpre a função de interagir com o outro”, acrescenta a também psicóloga e diretora da Gradual, Cíntia Guilhardi. O entendimento da palavra se dá ao pé-da-letra e não pelo contexto. Se alguém pergunta, por exemplo, “como vai?”, a indagação é decodificada pelo asperger como “está indo a pé, de ônibus...?” e não se a pessoa está bem e feliz. (Claudia Romano)
“Esta característica da síndrome se acentua com a dificuldade social para desenvolver relacionamentos, pois a tendência dos autistas é para o isolamento e para as atividades individuais”, completa Leila Bagaiolo, a terceira diretora, também psicóloga, especializada em comportamentos atípicos.
Outras características acentuadas nos aspergers são os comportamentos estereotipados (repetem determinados gestos incessantemente) e as restrições comportamentais (eles têm interesses e atividades restritos).
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é realizado por médicos neurologistas ou psiquiatras com base em exames clínicos e neuropsicológicos. Além disso, estes médicos podem solicitar uma série de exames específicos para investigar variáveis genéticas e neurológicas. “Os pediatras têm um papel fundamental na detecção dos primeiros sinais de atraso do desenvolvimento do bebê. Quando percebidos esses sinais, o pediatra encaminha seu paciente para uma avaliação mais especializada”, esclarece Cláudia Romano.
“Atualmente o diagnóstico pode ser feito desde muito cedo, e quanto mais cedo melhor o prognóstico. Até crianças com um ano de idade já podem apresentar algumas características. O diagnóstico e a intervenção precoce são fundamentais para o sucesso do trabalho”, alerta Leila.
“Quando estas crianças chegam à Gradual, fazemos uma avaliação comportamental, ou seja, após observarmos a criança em diversos ambientes freqüentados por ela, levantamos aspectos como: comportamentos ainda não adquiridos, comportamentos adequados que precisam ser maximizados e comportamentos inadequados que precisam ser minimizados e substituídos por outros”, explica Cíntia Guilhardi. “Esta avaliação é individual e serve de orientação para o trabalho que será desenvolvido, daí a importância de ver essa criança como única, sem comparações, pois o que nos interessa são suas características particulares”.
Perspectivas de desenvolvimento e de integração social
“Com a metodologia de ensino adequada para criança não há limites de aprendizagem, desde que sejam feitas todas as adaptações necessárias para um aprendizado gradual”, explica Leila.
“Cada criança tem potencial para desenvolver diferentes habilidades e só precisa da metodologia mais adequada para as suas especificidades. Neste sentido, a intervenção desenvolve diferentes procedimentos de ensino até encontrar o mais adequado para cada um”, diz Cláudia.
Quanto mais cedo for iniciada uma estimulação sistemática e adequada, mais longe o portador de SA pode se desenvolver socialmente. Segundo as especialistas, a inclusão é feita em escolas regulares com a preparação e orientação dos profissionais da escola, adaptação de material para o autista e, principalmente, introdução de um acompanhante terapêutico especialmente treinado para fazer as adaptações necessárias e ajudar a criança a aproveitar o melhor das atividades escolares. “Não indicamos a inclusão em escolas especiais, pois é possível, sim, indivíduos diagnosticados com SA acompanharem o ensino regular”, afirma Cíntia.
Como ajudar?
A intervenção deve ser individualizada, por isso as orientações e procedimentos são para cada caso. No entanto, as psicólogas selecionaram alguns pontos que costumam estar presentes na maioria das intervenções (o que não significa que valham para todos os portadores de AS, insistem em frisar).
- Garantir a previsibilidade das atividades diárias;
- Uso de estimulação visual para o ensino;
- Garantir a motivação em qualquer tarefa proposta;
- Dividir tarefas complexas em tarefas menores e simplificadas, garantindo sempre o sucesso da criança;
- Valorizar comportamentos adequados;
- Redirecionar comportamentos inadequados paralelamente com o ensino de formas alternativas de comportamento;
- Estimular o contato visual;
- Estimular a socialização.
Fonte: http://www.igeduca.com.br/artigos/saude-total/sindrome-de-asperger.html
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