sexta-feira, 4 de março de 2011

Brasil é destaque no Dia Mundial do Autismo, 2 de abril


Não foi à toa que a ONU (Organização das Nações Unidas) decretou todo 2 de abril como sendo o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (World Autism Awareness Day), desde 2008. Este é o quarto ano do evento mundial, que pede mais atenção ao transtorno do espectro autista (nome oficial do autismo), que é mais comum em crianças que AIDS, câncer e diabetes juntos.

No Brasil -- além do cartaz (ao lado) e do vídeo da campanha --, a data será lembrada com a iluminação em azul (cor definida para o autismo) de vários prédios e monumentos importantes, entre eles, o Cristo Redentor (no Rio de Janeiro) -- que acabou de inaugurar uma moderna iluminação de LED --, a Ponte Estaiada, o Monumento às Bandeiras e o Viaduto do Chá (todos em São Paulo) e o prédio do Senado em Brasília (outras ações podem ser vistas em http://RevistaAutismo.com.br/DiaMundial). No restante do mundo, outros importantes pontos acenderão sua “luz azul”, como no ano passado o prédio Empire State, em Nova York (Estados Unidos) e a CN Tower, em Toronto, (Canadá).

O autismo é uma síndrome complexa e muito mais comum do que se pensa. Atualmente, o número mais aceito no mundo é a estatística do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão do governo dos Estados Unidos: uma criança com autismo para cada 110. Estima-se que esse número possa chegar a 2 milhões de autistas no país, segundo o psiquiatra Marcos Tomanik Mercadante citou em audiência pública no Senado Federal no fim de 2010, onde discute-se uma lei exclusiva para o autismo, liderada pelo senador Paulo Paim (PT-RS). Mercadante é um dos autores da primeira (e por enquanto única) estatística brasileira, num programa piloto por amostragem na cidade de Atibaia (SP), que registrou naquela amostragem incidência de uma para cada 333 crianças -- publicada no final de fevereiro último. No mundo, segundo a ONU, acredita-se ter mais de 70 milhõ

es de pessoas com autismo, afetando a maneira como esses indivíduos se comunicam e interagem. A incidência em meninos é maior, tendo uma relação de quatro meninos para uma menina com autismo.

No ano passado, um discurso do presidente dos Estados Unidos, no dia 2, lembrou a importância da data: “Temos feito grandes progressos, mas os desafios e as barreiras ainda permanecem para os indivíduos do espectro do autismo e seus entes queridos. É por isso que minha administração tem aplicado os investimentos na pesquisa do autismo, detecção e tratamentos inovadores – desde a intervenção precoce para crianças e os serviços de apoio à família para melhorar o suporte para os adultos autistas”. Barack Obama ainda concluiu: “Com cada nova política para romper essas barreiras, e com cada atitude para novas reformas, nos aproximamos de um mundo livre de discriminação, onde todos possam alcançar seu potencial máximo”.

No Brasil, é preciso alertar, sobretudo, as autoridades e governantes para a criação de políticas de saúde pública para o tratamento e diagnóstico do autismo, além de apoiar e subsidiar pesquisas na área. Somente o diagnóstico precoce, e conseqüentemente iniciar uma intervenção precoce, pode oferecer mais qualidade de vida às pessoas com autismo, para a seguir iniciarmos estatísticas na área e termos idéia da dimensão dessa realidade no Brasil. E mudá-la.

Vários níveis no espectro


World Autism Awareness Day

O autismo faz parte de um grupo de desordens do cérebro chamado de transtorno invasivo do desenvolvimento (TID) – também conhecido como transtorno global do desenvolvimento (TGD). Para muitos, o autismo remete à imagem dos casos mais graves, mas há vários níveis dentro do espectro autista. Nos limites dessa variação, há desde casos com sérios comprometimentos do cérebro além de raros casos com diversas habilidades mentais, como a Síndrome de Asperger (um tipo leve de autismo) – atribuído inclusive a aos gênios Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Mozart e Einstein. Mas é preciso desfazer o mito de que todo autista tem um “superpoder”. Os casos de genialidade são raríssimos.

A medicina e a ciência de um modo geral sabem muito pouco sobre o autismo, descrito pela primeira vez em 1943 e somente 1993 incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID 10) da Organização Mundial da Saúde como um transtorno invasivo do desenvolvimento. Muitas pesquisas ao redor do mundo tentam descobrir causas, intervenções mais eficazes e a tão esperada cura. Atualmente diversos tratamentos podem tornar a qualidade de vida da pessoa com autismo sensivelmente melhor. E vale destacar que o neurocientista brasileiro Alysson Muotri conseguiu um primeiro passo para uma possibilidade futura de cura, em seu trabalho na Califórnia (EUA). Ele curou um neurônio autista em laboratório e trabalha no progresso de sua técnica na Universidade de San Diego. Tão importante quanto descobrir a cura, é permitir que os autistas de hoje sejam incluídos na sociedade e tenham mais qualidade de vida e respeito.

Paiva Junior é jornalista, editor-chefe da Revista Autismo (http://RevistaAutismo.com.br) e pai do Giovani, de 3 anos e 10 meses, que está no espectro autista, e da Samanta, de 1 ano e 9 meses, que está tendo desenvolvimento típico (normal).

E-mail: editor@RevistaAutismo.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

Twitter: @RevistaAutismo e @PaivaJunior

Facebook: http://fb.me/RevistaAutismo

MAIS MATERIAL

Fontes estatísticas:

English/Inglês - Mais material pode ser encontrado em:

Fonte: http://www.revistaautismo.com.br/noticias/brasil-e-destaque-no-dia-mundial-do-autismo-2-de-abril

quinta-feira, 3 de março de 2011

Síndrome de Asperger - Aprendendo a viver socialmente

(Daniel Tammet)

A história de Daniel Tammet, do livro “Nascido em um dia azul”, é relatada pelo próprio jovem, diagnosticado com Síndrome de Asperger (SA). Daniel, que é dotado de uma mente extraordinária, domina sete idiomas e efetua cálculos invulgares, vive em Kent, na Inglaterra, e tem uma empresa de tutorias linguísticas na Web.Embora nem todos aspergers tenham a mesma performance que ele, Daniel atribui a sua autonomia e integração no mundo à participação da família, que o ajudou a enfrentar e a vencer as dificuldades típicas da patologia. A SA é uma forma de autismo que torna difícil a aquisição das habilidades sociais que se desenvolvem naturalmente na maioria das pessoas.
“Os portadores da Síndrome de Asperger estão entre os autistas com alto grau de funcionamento”, explica a psicóloga Cláudia Romano, uma das diretoras do Grupo Gradual, clínica paulista que analisa e trabalha comportamentos de desenvolvimento atípico. Cláudia ressalta que no autismo há diferentes graus de deficiência que podem ir desde os muito deficitários até crianças que desenvolvem somente algumas características do diagnóstico.

(Leila Bagaiolo)

No caso da SA, as principais deficiências se encontram nas áreas verbal, social e comportamental. “Embora a aquisição e desenvolvimento da fala ocorram de maneira normal para essas crianças, elas têm dificuldade de usar o que aprenderam para se comunicar, ou seja, os portadores da síndrome geralmente falam bem, mas a fala não cumpre a função de interagir com o outro”, acrescenta a também psicóloga e diretora da Gradual, Cíntia Guilhardi. O entendimento da palavra se dá ao pé-da-letra e não pelo contexto. Se alguém pergunta, por exemplo, “como vai?”, a indagação é decodificada pelo asperger como “está indo a pé, de ônibus...?” e não se a pessoa está bem e feliz. (Claudia Romano)

“Esta característica da síndrome se acentua com a dificuldade social para desenvolver relacionamentos, pois a tendência dos autistas é para o isolamento e para as atividades individuais”, completa Leila Bagaiolo, a terceira diretora, também psicóloga, especializada em comportamentos atípicos.
Outras características acentuadas nos aspergers são os comportamentos estereotipados (repetem determinados gestos incessantemente) e as restrições comportamentais (eles têm interesses e atividades restritos).

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é realizado por médicos neurologistas ou psiquiatras com base em exames clínicos e neuropsicológicos. Além disso, estes médicos podem solicitar uma série de exames específicos para investigar variáveis genéticas e neurológicas. “Os pediatras têm um papel fundamental na detecção dos primeiros sinais de atraso do desenvolvimento do bebê. Quando percebidos esses sinais, o pediatra encaminha seu paciente para uma avaliação mais especializada”, esclarece Cláudia Romano.

“Atualmente o diagnóstico pode ser feito desde muito cedo, e quanto mais cedo melhor o prognóstico. Até crianças com um ano de idade já podem apresentar algumas características. O diagnóstico e a intervenção precoce são fundamentais para o sucesso do trabalho”, alerta Leila.
“Quando estas crianças chegam à Gradual, fazemos uma avaliação comportamental, ou seja, após observarmos a criança em diversos ambientes freqüentados por ela, levantamos aspectos como: comportamentos ainda não adquiridos, comportamentos adequados que precisam ser maximizados e comportamentos inadequados que precisam ser minimizados e substituídos por outros”, explica Cíntia Guilhardi. “Esta avaliação é individual e serve de orientação para o trabalho que será desenvolvido, daí a importância de ver essa criança como única, sem comparações, pois o que nos interessa são suas características particulares”.

Perspectivas de desenvolvimento e de integração social

“Com a metodologia de ensino adequada para criança não há limites de aprendizagem, desde que sejam feitas todas as adaptações necessárias para um aprendizado gradual”, explica Leila.

“Cada criança tem potencial para desenvolver diferentes habilidades e só precisa da metodologia mais adequada para as suas especificidades. Neste sentido, a intervenção desenvolve diferentes procedimentos de ensino até encontrar o mais adequado para cada um”, diz Cláudia.

Quanto mais cedo for iniciada uma estimulação sistemática e adequada, mais longe o portador de SA pode se desenvolver socialmente. Segundo as especialistas, a inclusão é feita em escolas regulares com a preparação e orientação dos profissionais da escola, adaptação de material para o autista e, principalmente, introdução de um acompanhante terapêutico especialmente treinado para fazer as adaptações necessárias e ajudar a criança a aproveitar o melhor das atividades escolares. “Não indicamos a inclusão em escolas especiais, pois é possível, sim, indivíduos diagnosticados com SA acompanharem o ensino regular”, afirma Cíntia.

Como ajudar?

A intervenção deve ser individualizada, por isso as orientações e procedimentos são para cada caso. No entanto, as psicólogas selecionaram alguns pontos que costumam estar presentes na maioria das intervenções (o que não significa que valham para todos os portadores de AS, insistem em frisar).

- Garantir a previsibilidade das atividades diárias;
- Uso de estimulação visual para o ensino;
- Garantir a motivação em qualquer tarefa proposta;
- Dividir tarefas complexas em tarefas menores e simplificadas, garantindo sempre o sucesso da criança;
- Valorizar comportamentos adequados;
- Redirecionar comportamentos inadequados paralelamente com o ensino de formas alternativas de comportamento;
- Estimular o contato visual;
- Estimular a socialização.

Fonte: http://www.igeduca.com.br/artigos/saude-total/sindrome-de-asperger.html