Janela para a vidaA epopéia de uma brasileira radicada nos EUA que ajuda o filho a enfrentar o autismo
Em viagem de férias ao Brasil, o americano Ramsey Mahaffey, de 7 anos, explora a paisagem. Esbalda-se na praia, faz festa para o futebol pentacampeão e fica intrigado com o Cristo Redentor, que parece arranhar o céu do Rio de Janeiro. Diagnosticado como autista no segundo ano de vida, Ramsey não estaria tão bem sem a teimosia da mãe, Veronica Bird, uma brasileira radicada nos Estados Unidos desde a adolescência.
A vida dessa carioca, ex-mulher do milionário americano Bob Bird, dono de uma rede de hospitais na Califórnia, virou de pernas para o ar com a doença do filho caçula, fruto de uma terceira união, desta vez com um físico nuclear. Atriz coadjuvante, Veronica interrompeu a carreira após uma breve passagem por Hollywood – ela dança com Bugsy, o gângster interpretado por Warren Beatty, no filme de mesmo nome. A vida real lhe sairia menos glamourosa. Aos 2 anos, Ramsey deixou de falar, passou a evitar o contato 'olho no olho' e parecia surdo. Acreditava-se que ele tinha um fluido anormal no ouvido. A criança foi tratada com prednisona, antiinflamatório que pode causar efeitos colaterais como cegueira e fragilidade óssea.
Dois dias depois das primeiras doses, Ramsey voltou a pedir refrigerante e batatas fritas. Mas, quando a medicação foi interrompida, ele emudeceu novamente. Os médicos fizeram o diagnóstico: autismo regressivo, uma face da doença que rouba da criança habilidades já conquistadas. Ramsey tomou o remédio por cinco meses e foi submetido a intensa atividade pedagógica, com acompanhamento diário de uma educadora. Hoje é uma criança quase normal. Ninguém sabe ao certo se foi beneficiado pelo remédio, pelo investimento educacional ou pela combinação das duas coisas. O uso da prednisona por autistas nunca foi aprovado. 'Precisamos de mais estudos clínicos para prescrever a droga', disse a Época o neurologista Andrew Zimmerman, especialista do Kennedy Krieger Institute, em Baltimore, nos EUA.
A mãe de Ramsey criou uma entidade, a Veronica Bird Charitable Foundation (http://www.aheadwithautism.com/), e se dispõe a financiar experiências. Ela é descendente de uma tradicional família mineira. O avô materno, Augusto Viana do Castello, foi ministro da Justiça no governo Washington Luís (1926-1930). Em busca de fundos, leiloou no ano passado um diamante de 10 quilates em favor da entidade. Quer reunir médicos e voluntários, inclusive no Brasil, interessados em participar de uma pesquisa nos moldes exigidos pelas autoridades sanitárias americanas. Um vídeo produzido por ela própria, com orientações para pais e pediatras, recebeu prêmios e está disponível nas bibliotecas públicas americanas. Nele relata o tratamento do filho, que hoje freqüenta a escola e tem desempenho admirável. Um estranho é incapaz de perceber nele nuances de autismo, como a idéia fixa de falar sobre fazendas e animais. Veronica segue buscando aliados e doações.
Cristiane Segatto
18/12/2006 - 09:36 Edição nº 444
Em viagem de férias ao Brasil, o americano Ramsey Mahaffey, de 7 anos, explora a paisagem. Esbalda-se na praia, faz festa para o futebol pentacampeão e fica intrigado com o Cristo Redentor, que parece arranhar o céu do Rio de Janeiro. Diagnosticado como autista no segundo ano de vida, Ramsey não estaria tão bem sem a teimosia da mãe, Veronica Bird, uma brasileira radicada nos Estados Unidos desde a adolescência.
A vida dessa carioca, ex-mulher do milionário americano Bob Bird, dono de uma rede de hospitais na Califórnia, virou de pernas para o ar com a doença do filho caçula, fruto de uma terceira união, desta vez com um físico nuclear. Atriz coadjuvante, Veronica interrompeu a carreira após uma breve passagem por Hollywood – ela dança com Bugsy, o gângster interpretado por Warren Beatty, no filme de mesmo nome. A vida real lhe sairia menos glamourosa. Aos 2 anos, Ramsey deixou de falar, passou a evitar o contato 'olho no olho' e parecia surdo. Acreditava-se que ele tinha um fluido anormal no ouvido. A criança foi tratada com prednisona, antiinflamatório que pode causar efeitos colaterais como cegueira e fragilidade óssea.
Dois dias depois das primeiras doses, Ramsey voltou a pedir refrigerante e batatas fritas. Mas, quando a medicação foi interrompida, ele emudeceu novamente. Os médicos fizeram o diagnóstico: autismo regressivo, uma face da doença que rouba da criança habilidades já conquistadas. Ramsey tomou o remédio por cinco meses e foi submetido a intensa atividade pedagógica, com acompanhamento diário de uma educadora. Hoje é uma criança quase normal. Ninguém sabe ao certo se foi beneficiado pelo remédio, pelo investimento educacional ou pela combinação das duas coisas. O uso da prednisona por autistas nunca foi aprovado. 'Precisamos de mais estudos clínicos para prescrever a droga', disse a Época o neurologista Andrew Zimmerman, especialista do Kennedy Krieger Institute, em Baltimore, nos EUA.
A mãe de Ramsey criou uma entidade, a Veronica Bird Charitable Foundation (http://www.aheadwithautism.com/), e se dispõe a financiar experiências. Ela é descendente de uma tradicional família mineira. O avô materno, Augusto Viana do Castello, foi ministro da Justiça no governo Washington Luís (1926-1930). Em busca de fundos, leiloou no ano passado um diamante de 10 quilates em favor da entidade. Quer reunir médicos e voluntários, inclusive no Brasil, interessados em participar de uma pesquisa nos moldes exigidos pelas autoridades sanitárias americanas. Um vídeo produzido por ela própria, com orientações para pais e pediatras, recebeu prêmios e está disponível nas bibliotecas públicas americanas. Nele relata o tratamento do filho, que hoje freqüenta a escola e tem desempenho admirável. Um estranho é incapaz de perceber nele nuances de autismo, como a idéia fixa de falar sobre fazendas e animais. Veronica segue buscando aliados e doações.
Cristiane Segatto
18/12/2006 - 09:36 Edição nº 444
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